Uma vida dedicada à aviação
Tatiana Calé (Coordenadora), Thaís Seibitz, Marcello Chiodi (Diretor) e Sr. César Seibitz
Há aproximadamente 2 meses, recebemos uma mensagem em nosso perfil do Instagram que nos tocou profundamente.
A filha de um Comissário de Bordo, Chefe de Equipe da extinta VARIG que voou por 33 anos naquela empresa e que, assim como muitos, havia terminado seus dias de glamour e dedicação à profissão de forma triste e melancólica, nos escrevia para relatar o drama de seu pai bem como os dias de glória por ele vividos. O Sr. Cesar estava vivendo dias de amargura e tristeza.
Na mensagem, um pedido: conseguir uma visita à Academia de Aviação, uma oportunidade de falar sobre o encanto que foi trabalhar 33 anos nessa profissão.
Desejo concedido! Convidamos o Sr. César e sua linda família para nos brindar com sua presença na cerimônia de formatura das turmas de Comissário de Bordo e Agente de Aeroporto.
Abaixo, a mensagem enviada por Thaís Seibitz, filha do Sr. Cesar e após, as palavras do próprio Sr. César.
Olá. Meu nome é Thaís. Sou filha de um Chefe de Equipe aposentado da Varig.Meu pai trabalhou 33 anos para a empresa. Sempre vestiu a camisa, Variguiano com muito orgulho. A Varig quebrou e junto com ela, meu pai também se feriu. Hoje aguarda o pagamento do Aerus, enquanto acompanha colegas de luta e profissão falecendo sem receber e alguns até cometendo suicidio. Meu pai enverga, mas não quebra, assim como as asas dos Boeings que já voou. Vira e mexe fica depressivo. Atualmente, está passando por tempos difíceis, de instabilidade financeira e principalmente emocional. Me mandou mensagens ontem e hoje, pedindo ajuda, para arrumar um emprego de vigilante noturno de prédio, algo que ele pudesse fazer a noite, para que não atrapalhasse a rotina de médicos. ME PARTIU O CORAÇÃO.Então resolvi navegar aqui no Instagram, em busca de escolas de aviação ou atividades relacionadas a essa área, com a finalidade de buscar uma oportunidade pra ele. Não necessariamente com remuneração significativa,mas algo que o fizesse sentir útil, contar as histórias lindas que ele acumulou, voando tanto em Céu de Brigadeiro, quanto em tempestades turbulentas.Além de voar, ele trabalhou em terra, na chefia de comissários, no setor de recrutamento e seleção. Acho que ele tem muita história pra contar… e tem muita gente nova, chegando, que gostaria de ouvi-lo.Cresci vendo e admirando meu pai se arrumando, todo lindo, com farda cheia de faixas douradas, quepe e um baita orgulho do seu trabalho. Fazia uma tremenda falta física, nem sempre estava presente nos eventos escolares, aniversário, alguns natais… mas sempre presente emocionalmente. Voltava de voo cheio de amor pra família. Mais presente do que muito pai de “horário comercial”…Ouvir a voz do meu pai no avião, antes, durante e após o pouso me emocionava. Que sensação boa, que orgulho! Então você faz ideia do quanto me dói ver as palavras dele agora, me pedindo ajuda, clamando para se sentir útil?Enfim, foi por isso que cheguei até aqui. Não sei ao certo o que pedir, o que tentar pra ele. Mas acho que alguma coisa boa pode sair desse insight meu… de repente conseguir uma visita à academia de aviação, uma oportunidade dele ver como estão as coisas hoje nesse meio, oportunidade de talvez falar sobre o encanto que foi trabalhar 33 anos nessa profissão… até mesmo, de repente, uma oportunidade de eu estar com ele, poder falar ao lado dele, na perspectiva de filha, o lado familiar. E quem sabe uma oportunidade de trabalho pra ele, não necessariamente na academia. É isso! Agradeço desde já pela atenção. E desculpe o texto longo, mas bateu um certo desespero ao ler as mensagens do meu pai. Meu coração de filha não aguenta.E com a palavra, o Sr. César Seibitz:Fui comissário de voo. Na minha primeira decolagem, não sabia ao certo o que estava fazendo ali, mas ao concluir o primeiro voo da primeira escala, só tinha um sentimento: era aquilo que queria pra mim. E assim voei, por 32 anos, honrando, respeitando e AMANDO a minha profissão e a camisa da VARIG. Até que veio a aposentadoria, quando a VARIG já não estava bem e os tão sonhados planos para esse meu descanso não puderam ser concretizados. O AERUS, previdência privada pelo qual contribuí por mais de 20 anos, não honra com o pagamento integral. Passei por muitas dificuldades financeiras, emocionais e o impacto disso para a minha saúde física e emocional foi violento. Sobrevivi às turbulências. E assim tem sido meus dias. Não vivo… sobrevivo. Deixei de ter vontade de conviver socialmente, não mais queria sequer falar e lembrar da aviação, pois me causava sofrimento. A sensação é de que as boas lembranças acumuladas nestes 32 anos foram lentamente apagadas. Até que em um dia desses, estava muito pra baixo. Escrevi pra minha filha, pelo WhatsApp, pedindo ajuda. Nunca tinha feito isso, mas não ter nada pra fazer, pensar, falar, me consumia. Queria ocupar a minha mente, pra me sentir vivo, útil. Ela entrou em contato com a Academia Dumont, seu eu saber, relatando um pouco dessa minha história. Então minha vida começou a mudar quando minha filha chegou em casa e disse: pai, te prepara que temos um compromisso. Você foi convidado para conhecer uma academia de aviação. Os diretores querem te conhecer! Báh! Que baita baque eu tomei! Não queria isso. Não queria voltar nesse mundo da aviação. Mas quem passou a vida voando, realmente não esquece essa paixão. Precisei apenas de cinco minutos para voltar a sorrir e abrir minhas caixas mentais de lembranças.A visita foi de lascar! Eu fiquei impressionado com a estrutura física da Academia Dumont. Equipamentos, salas, cursos ministrados e materiais. Apesar de nunca ter deixado de voar, trabalhei também em terra, por seis anos e meio, na chefia de comissários base São Paulo, atuando no recrutamento, seleção, instrução e formação de comissários. E o que vi foi uma enorme evolução, em todos os sentidos, desde a estrutura física, material e formação, como também pude conhecer um pouco de como está o mercado atualmente e os processos de seleção de hoje, nas empresas aéreas. Uma das coisas que mais chamou a atenção foi ver como aluno da Dumont é valorizado, desde o momento em que se matricula. Nas redes sociais, notei que são compartilhados todos os momentos da passagem dos alunos, desde fotos durante o curso e formatura, como também parabenização por aprovação na ANAC e ingresso em companhia aérea, com suporte inclusive para elaboração de currículo profissional. A Academia acolhe, ensina e põe pra voar. Mas o que mais me impressionou foi a atenção, o acolhimento pelo qual fui recebido. Ali, vendo o Marcello, um dos diretores da Dumont, me valorizando, valorizando minha história e contribuição para a aviação, por que eu não faria isso por mim? Por que eu não vou enxergar na minha história o valor que um desconhecido está enxergando e valorizando? Naquele dia, voltei pra casa me sentindo outra pessoa. E com um convite pra falar um pouquinho na formatura de Comissários de Voo.O que eu não sabia é que de nada adiantaria eu estudar meu “speech”, pois emudeceria, após uma belíssima homenagem da Academia no dia da formatura, que ainda abriu espaço para minha família fazer o mesmo. O que eu não sabia é que este dia 29 de março de 2019, por causa da Academia Dumont, seria um divisor de águas pra mim. O que eu não sabia é que existia, nesse mundo de competição pra se manter no mercado, pessoas com diferenciais tão nobres, como empatia, respeito, responsabilidade social e humanização. E isso é muito mais do que valorizar um profissional aposentado da aviação. Isso é valorizar um ser humano e fazer o que está ao alcance para o bem do outro. A Academia Dumont, não só fez um bem pra mim, mas para os seus alunos também, pois estão começando agora e foi importante ver, através de nosso enredo, os reais valores que um tripulante tem que levar na mala. Foi uma lição de vida para todos os que ali estavam e acredito que será uma lição para todos que tiverem a oportunidade de conhecer essa história de aviação. Por isso, fiz questão de fazer esse depoimento.Academia Dumont, vocês não apenas formam comissários, agentes de aeroportos, pilotos, mecânicos de aeronave… vocês formam pessoas, pois valorizam a ESSÊNCIA HUMANA. Agora, aos 65 anos, volto a voar, através de papos com amigos e colegas de profissão, caixas de fotografias, memórias físicas e mentais. Obrigado, família Dumont. Graças a vocês, estou ressignificando a minha história profissional, estou novamente (e literalmente) nas nuvens, voando em Céu de Brigadeiro.Aqui vocês tem um eterno amigo!Grande abraço,Cesar Seibitz